O Combate à Corrupção e Seu Custo Político: O Caso do INSS
- Eduardo Meneses
- 1 de mai.
- 3 min de leitura
A corrupção é um desafio estrutural em muitas democracias, afetando a eficiência do Estado e a confiança da sociedade nas instituições. Seu combate exige não apenas medidas técnicas e jurídicas, mas também enfrentar um paradoxo político: governos que intensificam a fiscalização podem ser penalizados pela opinião pública, já que investigações ampliam a visibilidade de casos de corrupção, gerando a percepção de que o problema está se agravando.
A corrupção frequentemente se alimenta de falhas institucionais, como falta de transparência, burocracia excessiva e fragilidades nos mecanismos de controle. Além disso, sua persistência está ligada a práticas culturais arraigadas, como o clientelismo e a impunidade histórica. Quando a mídia expõe escândalos, a sociedade tende a cobrar respostas imediatas, mas soluções efetivas demandam reformas profundas e ações coordenadas entre diferentes órgãos — algo que raramente rende dividendos políticos no curto prazo.
Um exemplo recente desse desafio foi a denúncia da Controladoria-Geral da União (CGU) sobre um esquema de corrupção no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), investigado pela Polícia Federal. O caso envolvia supostos desvios em processos de benefícios previdenciários, evidenciando como fraudes em serviços essenciais prejudicam diretamente a população.
Esse tipo de investigação ilustra um dilema: por um lado, a atuação independente da CGU e da PF é essencial para coibir irregularidades; por outro, a divulgação de casos assim pode alimentar a desconfiança em relação ao governo, mesmo que ele esteja adotando medidas corretivas. Para líderes políticos, há um risco claro: investir no combate à corrupção pode, ironicamente, enfraquecer sua imagem pública, já que a sociedade nem sempre distingue entre a existência do problema e a responsabilidade de quem o expõe.
A autonomia de órgãos como a CGU, o Ministério Público e a Polícia Federal é fundamental para a credibilidade das investigações. No entanto, quando escândalos ganham destaque, parte da população interpreta os fatos como sinal de ineficiência ou conivência do governo, independentemente de seu envolvimento real. Esse fenômeno explica por que muitos governos hesitam em aprofundar medidas anticorrupção — o preço político pode ser alto.
Combater a corrupção exige mais do que investigações pontuais: é preciso reformas institucionais, fortalecimento dos órgãos de controle e, sobretudo, uma mudança cultural na relação entre Estado e sociedade.
O caso do INSS reforça que, sem transparência, mesmo políticas bem intencionadas podem ser minadas por irregularidades. No entanto, é crucial reconhecer que o combate à corrupção não é apenas uma questão técnica, mas também política — e seu sucesso depende de que a sociedade compreenda a diferença entre governos que toleram a corrupção e aqueles que a enfrentam, mesmo sob risco de desgaste.
O caso da presidente Dilma
Em resposta às massivas manifestações de 2013, que tinham no combate à corrupção uma de suas principais bandeiras, a então presidente Dilma Rousseff encaminhou ao Congresso, em 2015, um pacote de medidas anticorrupção, incluindo a tipificação do caixa dois como crime hediondo, aumento de penas para corrupção e fortalecimento da Lei de Acesso à Informação. No entanto, o projeto foi bastante alterado pelo Legislativo, em um contexto de crescente crise política e econômica.
Paradoxalmente, embora a proposta buscasse responder às demandas das ruas, seu fracasso aprofundou a percepção de ineficácia do governo, contribuindo para o isolamento político de Dilma, que, meses depois, sofreria impeachment sob alegações de pedaladas fiscais. Esse episódio ilustra o dilema enfrentado por governos que tentam capitalizar o combate à corrupção: mesmo iniciativas bem-intencionadas podem ser interpretadas como reação oportunista, especialmente quando a crise de legitimidade já está instalada.
A rejeição do projeto também revela como o tema é instrumentalizado por interesses políticos — muitos dos mesmos congressistas que barraram as medidas depois apoiaram o impeachment, usando a retórica anticorrupção como justificativa.

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