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Só tem respeito quem se dá ao respeito

  • Foto do escritor: Eduardo Meneses
    Eduardo Meneses
  • há 8 minutos
  • 2 min de leitura

Há algo de profundamente errado na educação de Esmeraldas.

E não é apenas a falta de recursos, nem a sobrecarga de trabalho.

O problema, infelizmente, também está dentro das próprias escolas.


Desde o governo do ex-prefeito Glacialdo — se não me falha a memória, lá por volta de 2013 —, quando o então Secretário de Educação implantou uma portaria “sugerindo” (ou melhor, delimitando) o número máximo de reprovações por turma, a rede municipal passou a conviver com uma verdadeira aberração pedagógica.


Essa portaria estabelece que apenas 10% dos alunos podem ser reprovados por sala de aula, o que, na prática, significa que em uma turma que tenha entre dez e dezenove alunos, só é permitido reprovar um, e em turmas que tenham de vinte em diante, no máximo dois. Uma anomalia que, até onde sei, não existe em outras redes do país.


O resultado disso é simples e trágico: escolas, supervisores e professores são pressionados a criar números artificiais de aprovação. Alunos que não se alfabetizaram, que não sabem ler ou interpretar um texto simples, estão sendo “aprovados” — e, o que é pior, com a chancela oficial da própria Secretaria.


A escola existe para garantir o aprendizado, não para distribuir títulos vazios. O papel do professor é formar cidadãos conscientes, não empurrar adiante alunos que sequer tentaram aprender.

Mas a cada ano, vemos crescer o número de estudantes que avançam sem mérito, sem preparo e sem qualquer senso de responsabilidade.


E não basta culpar apenas o sistema.

Entre nós, profissionais da Educação, também se instalaram práticas perigosas. Ouço corriqueiramente:

“Ele é bagunceiro, melhor passar adiante.”

“A família é problemática, coitado, deixa ele ir.”

São critérios pessoais, emocionais, subjetivos — e profundamente antiéticos.


Assim, o professor que reclama da falta de respeito social precisa encarar um fato duro: não há respeito possível quando nós mesmos não respeitamos nossa profissão.


Enquanto aceitarmos essas imposições calados, enquanto continuarmos aprovando sem critério, sem mérito, estaremos cavando a própria desvalorização.

Estamos sem rumo, sem gestão, sem critérios e, o mais grave, sem coragem de reagir.


A educação só será respeitada quando nós, educadores, nos dermos ao respeito. E isso começa no simples ato de defender a essência do nosso ofício: ensinar com seriedade, avaliar com justiça e formar com dignidade.

 
 
 

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